A “LIGA DE AMIZADE LUSO-ESPANHOLA”, abreviadamente “LALE”, é uma associação de direito privado, com personalidade jurídica e sem fins lucrativos, sendo a sua duração por tempo indeterminado, que tem por fim estreitar a amizade entre portugueses e espanhois desenvolvendo o relacionamento dos respectivos povos e instituições civis.

OFICIALIZAÇÃO: Diário da República, Nº162, SUPLEMENTO, III SÉRIE, 18 484-(12), Quarta-feira, 24 de Agosto de 2005.

SITE: http://ligaamizadelusoespanhola.blogspot.com/

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quarta-feira, 12 de março de 2008


PREFÁCIO
(*) António Ramalho Eanes

Sabe-se que só as sociedades capazes de sistemática reflexão sobre o seu passado e sobre os seus valores e interesses conseguem estabelecer estratégias de adequada resposta às oportunidades e desafios do presente e do futuro.

Se é assim – e é assim sempre – imperativa e urgente se torna a necessidade de reflexão quando mudanças geoestratégicas afectam a situação de uma sociedade. Mudanças desta natureza, mudanças radicais, afectaram e afectam a vida dos dois povos que partilham o espaço ibérico e que, por ele, são inevitavelmente condicionados.

Na verdade, durante séculos, e como bem disse Cláudio Albornoz (Embaixador da II República espanhola em Portugal, “entre Espanha e Portugal elevava-se uma fronteira mais alta que os Pirinéus, cimentada por séculos de hostilidades, receios, incompreensões, ambições e medos”.

Passado secular, este, que terá gerado e alimentado, nos dois povos ibéricos, culturas em que a incompreensão, a animosidade, o antagonismo se tornaram traços de distinta dominância.

Com este pesado passivo, com este défice de conhecimento mútuo e com a correlativa carência de uma intercomunicação autêntica e mutuamente contributiva, entraram Portugal e Espanha num novo tempo. Contemporaneidade, esta, de mutante configuração nos teatros internacionais, da política e da economia, sobretudo, nos quais os dois países ibéricos se situam ou com os que não podem deixar de interagir. Configuração nova, irrecusável e irreversível, em que não cabem mais – sem desastrosas consequências – ambições político-territoriais, hostilidades, medos, e nem mesmo, velhas e consolidadas incompreensões nas relações entre os dois vizinhos ibéricos.

Na verdade, nos novos cenários políticos e económicos – europeu e mundial – idênticos são os horizontes estratégicos de Portugal e Espanha, quer se considere o espaço europeu, quer se atenda ao Atlântico, quer se olhe ao ibero-americano. Identidade de horizontes estratégicos que impõe, consequentemente, a contribuição conjunta para o mercado regional ibérico, e o desenho e a operacionalização de uma estratégia que, em especial, e devidamente, atenda e promova:

– A realização e valorização das interconexões entre os diferentes sistemas de comunicações;

– A coordenação de políticas e acções que potenciem o papel e melhor permitam a defesa dos interesses específicos de Portugal e Espanha;

– O aproveitamento, economicamente racional e socialmente virtuoso, de infra-estruturas e seus quadros, em especial no subsistema de saúde, nas áreas fronteiriças;

– A eficácia na utilização de meios contra o crime e o terrorismo;

– A conservação correcta – mesmo em termos ambientais – e a repartição equitativa dos recursos hídricos transibéricos;

– A colaboração, mutuamente vantajosa, das indústrias turística e cultural (esta, na ibero-américa, em especial).

Identidade de horizontes estratégicos, cuja operacionalização eficaz exige que, sem delongas, se proceda à liquidação do défice cultural, da responsabilidade de ambos os povos, que nos séculos passados se gerou – com justa razão, é necessário reconhecê-lo – se acumulou e nos foi transmitido. Liquidação de imperativa urgência para o presente e devir dos dois povos ibéricos, e que constitui irrecusável obrigação civil e política, dos governantes, das elites, enfim, das Sociedades Civis, portuguesa e espanhola.

Neste processo liquidatário trabalham, já, os dois Estados. Para ele contribuído terão diversos intelectuais (entre eles, citarei dois, já falecidos: Miguel Torga e Miguel Unamuno); nele se têm empenhado as Sociedades Civis, nomeadamente através de Fundações (Caluste Gulbenkian e Rei Afonso Henriques).

Vem, agora, o Coronel José Maria de Mendonça Júnior, com a criação da Liga de Amizade Luso-Espanhola, juntar achas a esta virtuosa fogueira, assim contribuindo não só para que as cinzas se reduzam defundos, mas não sepultados, preconceitos, mas também “desassossegar” o presente e oferecer mais luz ao futuro, a um futuro de benéfico, de mutuamente proveitoso relacionamento. Associação que, em boa verdade, tardava e à qual se oferece um largo horizonte de acção, de acção contributiva para a paz, prosperidade e prestígio de ambos os países ibéricos.

Creio que, como a todos os promotores de boas causas, de futuro e com futuro, se devem ao Sr. Coronel de Cavalaria José Maria de Mendonça Júnior felicitações e votos de que a obra transcenda o autor no tempo e, se possível, mesmo nas suas ambições fundadoras.

(*) Presidente da República de Portugal (1976-1986).

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“LIGA DE AMIZADE LUSO-ESPANHOLA”,